É comum retomar aos textos já existentes – e das mais diversas naturezas – para expressar nossas ideias e criar outros conteúdos. Nesse processo, ativamos a intertextualidade, ou seja, estabelecemos o diálogo entre diferentes textos a partir das construções visíveis no conteúdo do segundo texto, produzido com base em um anterior. A paródia é um gênero que expressa essa relação.
Assim, Alessandra Stauder criou sua parodia de um poema de Manuel Bandeira, escritor brasileiro, além de professor, crítico de arte e historiador literário. Fez parte da primeira geração modernista no Brasil. Com uma obra recheada de lirismo poético, Bandeira foi adepto do verso livre, da língua coloquial, da irreverência e da liberdade criadora.
Acompanhe a seguir!
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou eu a Rainha,
De um país feliz e de conto de fadas
Onde a gente é risonha
E faz o que tem que fazer
Com trilhas sonoras ao fundo
Vou-me embora pra Pasárgada,
Lá o dinheiro possui menos valor,
Daquele das ligações familiares
E das relações de amizade e amor.
lá a vida é mais fácil,
Como aquela que a gente vê nos desenhos animados
Como aquela que a gente percebe nos filmes
Como aquela que a gente sonha à noite.
Vou-me embora pra Pasárgada,
Onde tudo o que você quer é possível
lá eu me casarei jovem
Sem deixar o meu povo sem guía
E assim, eu viajarei cada vez que eu quererei,
Com alguém ou sem ninguém
Para lugares desconhecidos do mundo.
******Por Alessandra Stauder, aluna B1 de Lingua Portuguesa vertente Brasil.******
Texto Original:
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Texto extraído do livro “Bandeira a Vida Inteira”, Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90