Nas Férias de Natal, cada aluno de DSCULT leu um livro. Cristina Rosa Nazarri leu “O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon) versão em Português. Eis sua tarefa, uma criação com um ótimo aprendizado, cheio de vida, imaginação e poesia também.
Uma consideração sobre a narrativa de Druon; dizem que um clássico é um livro que nunca terminou de dizer o que tinha que dizer. É uma obra que se revela sempre nova, alcançando leitores em diferentes tempos. O menino do dedo verde é um destes livros. Publicado há mais de 50 anos, a obra continua encantando crianças e adultos de todos os lugares do mundo, com a história do sensível menino Tistu e suas descobertas com seu amigo jardineiro. O texto poético, cheio de trechos que conduzem a profundas reflexões sobre a vida, desafia os leitores para uma apreciação mais demorada das palavras, observando-as como delicadeza, como faz o protagonista com a natureza ao seu redor. Déa Santos.
O que aconteceu depois da subida de Tistu ao céu
Por Cristina Rosa Nazarri, estudante do curso B1, português vertente Portugal.
Os pais de Tistu sofriam terrivelmente porque não o viam mais. Os animais também eram muito tristes: além do pónei Ginástico, os outros cavalos não corriam mais, os cães e os gatos não brincavam mais, até os passarinhos não cantavam mais. As árvores perdiam suas folhas e as flores perdiam suas cores e seus perfumes. Toda a natureza parecia sonolenta, uma sensação de frio pairava no ar. Um longo inverno gélido caiu sobre a Casa-que-Brilha. Quando a viam, as pessoas diziam:
– Esta não é a Casa-que-Brilha, é a Casa-que-Gela!
Assim, este se tornou o novo nome da casa onde Tistu e sua família foram felizes.
Um dia, uma menina curiosa chamada Isabel passou por ali e perguntou ao seu pai:
– O que é essa casa?
– É a casa onde morava um menino que tinha o polegar verde.
– O que é um menino que tem o polegar verde?
O pai lhe explicou que o menino chamava-se Tistu e, ao colocar o seu polegar na terra, trazia vida a plantas e flores maravilhosas.
– Era um menino especial, um anjo. Um dia ele construiu uma escada longa que o trouxe até o céu e ninguém mais o viu.
Com lágrimas nos olhos, o senhor mostrou à sua filha os dois troncos e a glicínia que formavam a escada. A menina esforçou os seus olhos, mas não conseguiu ver o fim da escada. Ela sentia frio, mas ao mesmo tempo algo queimava no fundo de seu coração.
Nos dias seguintes, Isabel voltou várias vezes à Casa-que-Gela. Um dia, um pónei aproximou-se dela: ele pôs sua cara sobre o ombro de Isabel, que o acariciou. Os dois sentiram imediatamente que eles se entendiam muito bem e com naturalidade começaram a falar.
– Quem és tu?
– Eu sou Ginástico, o pónei de Tistu. Depois dele, tu és a primeira menina que me compreende e que fala comigo…
– Onde está Tistu? Por que ele foi embora?
– Tistu dedicou a sua vida a curar os males do mundo: ele ajudou reclusos, doentes, animais em cativeiro… até evitou uma guerra! Quando o seu serviço se acabou, ele regressou ao lugar onde pertencia: o céu.
Isabel ficou muito perturbada. Por que um menino tão maravilhoso teve de partir? O mundo precisa de boas pessoas! Ela olhava fixamente a cima da escada, perdida na imensidão do céu. A resposta estava lá, no final da escalada.
No jardim da Casa-que-Gela, Isabel conversava longamente com Ginástico enquanto ela pintava, porque ela era uma pintora talentosa. Numa tarde fria, no nevoeiro que envolvia o céu, ela acreditou ver uma pequena luz, só um brilho quase imperceptível, precisamente onde os troncos e a glicínia que formavam a escada ficavam invisíveis. Entusiasmada, Isabel perguntou:
– O que é essa luz?
Ginástico olhou na direção indicada pela menina, mas não viu nenhuma luz.
– Mesmo ali, onde a escada se perde nas nuvens!
Mas a luz já tinha desaparecido. Isabel se virou para o pónei e… que surpresa! A luz estava precisamente na frente de Ginástico: era a estrelinha que Tistu prometeu trazer para o pónei!
Então Isabel entendeu tudo: o que importa não é somente a presença física, o que importa é acender um fogo que outros podem manter, deixar um brilho no mundo que outras pessoas podem recolher, como um testemunho que passa de mão em mão numa estafeta. A beleza que criamos fica ainda quando nós vamos embora.
A menina Isabel não perdeu tempo: embora não tivesse o polegar verde, ela tinha o dom da pintura e começou a fazer o seu melhor para reavivar as cores da Casa-que-Gela e da cidade de Miraflores. Isso foi um exemplo para todos os adultos, que em pouco tempo se juntaram a ela. Os pais de Tistu potenciaram a fábrica de flores e até estabeleceram uma escola de jardinagem, na esperança de encontrar algum jovem com o polegar verde. Os animais do jardim, animados por as cores alegres das pinturas de Isabel e pelas novas plantas e flores cultivadas pelos jovens jardineiros, voltaram a correr, brincar e cantar. Em pouco tempo, a casa foi novamente a Casa-que-Brilha.
O pai de Isabel não ficou surpreendido quando ouviu que a sua filha falava com o pónei com a estrelinha na testa: afinal de contas, ele tinha conhecido Tistu e nada podia surpreendê-lo; além disso, ele era uma das poucas pessoas grandes que não têm ideias pré-fabricadas. Era orgulhoso da sua filha e muitas vezes passava visitá-la quando ela pintava; então ele lhe perguntava:
– A senhorita Trovões tem tempo para almoçar com o seu pai?
*** Compito di Natale!