Amazonas, mistério do planeta
Por Matteo Bergamini
Há alguns meses atrás, falando com um rapaz brasileiro (do estado do Piauí) muito jovem, estudante do Politécnico, com uma cervejinha na mão, eu disse:
-Ah, como queria visitar o Amazonas!
-Amazonas? – respondeu ele, um pouco surpreendido.
-Sim, Amazonas, por quê?
-Sabe, nenhum brasileiro está interessado no Amazonas. Os brasileiros, nas suas férias, querem sair do país para ir na Europa, nos Estados Unidos, ou à praia! Ninguém deseja viajar para o Amazonas/à Amazônia, replicou.
Fiquei um pouco interditado, depois de ter ouvido essa explicação tão simples e, ao mesmo tempo, tão indicativa pela falta de interesse na Amazônia pelos brasileiros. Não sei! Para mim, que não sou brasileiro nem americano: A Amazônia é um lugar do imaginário, como era o deserto antes de vê-lo.
No princípio do video (1), a voz narradora diz mais ou menos a mesma coisa que dizia-me o piauiense: Amazonas é um lugar “esquecido” para a maioria da população do Brasil. Quem sabe por quê? Pode ser distante? Por que é floresta inacessível? Terra de ninguém?
Terra de ninguém o quê?
Somente por ser a casa de seis mil espécies de árvores e não lembro de quantos milhares de bichos, não é possível pensar na Amazônia como um infinito pedaço de terra que pode ser destruída para roubar toda a sua riqueza natural, afim de conseguir madeira ou água.
O tema do Amazonas é um argumento o qual sempre me vem meio-confuso, embora não seja aquele tipo que se possa definir um “ecologista” no sentido fechado da palavra; ainda não penso que falte sete anos ao fim do mundo, bebo sem problema na garrafa de plástico, também não penso que seja tarde para mudar a visão sobre a economia e os argumentos a essa.
Alguns dias atrás, na Triennale, abriu uma exposição de Claudia Andujar, artista e ativista brasileira que por mais de 40 anos viveu com o povo indígena Yanomami: essa povoação foi descoberta por acaso nos anos ’40 do século passado, durante uma expedição para traçar os confins entre Brasil e Venezuela. O povo Yanomami foi vítima, em oitenta anos, da violência dos garimpeiros e das doenças importadas pelos descobridor em busca de madeira e novos territórios para agricultura e pecuária.
Hoje o povo Yanomami (mais ou menos trinta e oito mil habitantes no mato entre a linha de confins do norte dos Estados de Roraima e do Amazonas) vive confinado e protegido em reservas.
Claudia Andujar, na mesma exposição (promovida no começo pela Fondation Cartier de Paris) além de uma vasta documentação fotográfica sobre a vida, as usanças, as habitações e condições de isolamento e encontro com os brasileiros “continentais” com o povo Yanomami, trouxe também uma série de documentos audio-visuais com extratos de discursos políticos, também do atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Num desses documentos, o Presidente fala sobre a sua contrariedade de manter o povo indígena confinado em reservas, porque, segundo ele, é necessário um desenvolvimento das aldeias: as povoações nativas necessitam de acesso à saúde e à escola, por exemplo.
Refletia, com um pouco de espanto. Pode ser que Bolsonaro tenha razão? O pior ditador – segundo a imprensa internacional – falou com simplicidade um assunto claro de igualdade e união? Por quê – a pergunta faz sentido – manter uma distância entre “nós” e “eles”? Por quê pensar neles como a uma questão de jardim zoológico?
Não é problema plantar redes e paus para fazer um recinto e “tutelar”! Essa é uma coisa antiga e de qualquer maneira horrorosa. Hoje é unicamente uma questão de respeito. Talvez… penso, mas repito, o meu conhecimento sobre a Amazonia é mínimo, é pior deixar os nativos abandonados ao seu próprio destino que ajudar eles a melhorar em alguns modos nas suas condições de vida.
Pôr um povo numa cadeia é como meter um macaco na gaiola: protegendo-o do quê? Protegendo-o de quem? De quem tirou-o a liberdade, a vida, as tradições e que agora querem pô-lo em segurança?
É sempre a mesma pergunta: quem é que controla os controladores?
Já tinha dito isso muitas vezes, mas eu acho que as questões mais simples são as complicadas.
Todo o documentário é feito – pelo menos na minha visão – com muito respeito: ninguém tranca a idéia de desenvolvimento, ninguém quer parar com o assunto que a maior riqueza do planeta hoje em dia é feita de água, dos minerais, da terra. São elementos que podem ajudar a “evolução” do planeta, mas é necessário manejá-los com cuidando, com atenção, com um novo espírito econômico.
Esse é o ponto, muito bem explicado na série: ninguém falando do Amazonas quer parar a economia, ninguém quer ficar sem progresso, mas é necessário topar uma ética que de agora em diante vai ser a linha que marca duas palavras muitos importantes e que somente em aparência são parecidas: enriquecimento e exploração.
Não é mais possível confundir os termos, e acho que todos sabem muito bem em que sentido estou falando; “Todos” é referido àquelas empresas, grupos, multinacional que sem consciência alguma continuam a matar larga parte do planeta para fazer negócios com uma pequena parte do mundo, tão pequenina e tão rica – em breve ficará ainda reduzida, correspondentemente ao enfraquecimento, empobrecimento daquele grupo chamado “classe média”.
Então? Para “quem” destruir o mundo? Para alguns milhões de cara-de-bosta?
O mundo “ocidental” é assim sem ouvidos, tão cego, tão fechado, tão insensível quando se trata de olhar a seu umbigo, esquecendo os problemas os quais estão longe milhares de quilómetros, em breve vai ter que preocupar-se pela falta de chuva na Amazónia, inundações e desertificação.
Não sou ecologista, creio somente ser realista.
Enquanto a natureza, mais cedo ou mais tarde, reprende os seus espaços, na maioria das vezes não faz isso com carinho.
O tempo que Amazónia oferece ao Brasil – mais do que o país lhe dá, esta acabando; caso contrário imagino que o nosso maravilhoso mundo mascarado não possa continuar avante por muito tempo.
Embora o documentário termine com boas notícias sobre o desmatamento ( a energia limpa utilizada no Brasil e a qualidade de desenvolvimento no final do anos 2015), eu pesquisei algumas outras coisas mais recentes. Descobri com horror que somente no mês de setembro 2020 foram desmatados mais de três mil e oitocentos quilómetros quadrados da floresta Amazónica.
Quantos são três mil quilómetros quadrado? Não tinha idéia!
A superfície da Itália? Trezentos e um quilómetros quadrados!
A superfície da Região da Lombardia? Vinte e três mil!
A superfície da província di Milão? Mil e quinhentos quilómetros quadrados!
Um mês, duas províncias mortas!
Espero que os olhos dos Orixás estejam assistindo.
(1) -Documentário Amazônia Sociedade Anônima de Estêvão Ciavatta.
(2) – Texto escrito pelo aluno B2 de Lingua Portuguesa: Matteo Bergamini (1984) è un giornalista, critico d’arte e curatore. Dal 2012 lavora per il magazine Exibart.com e dal 2017 ne è direttore responsabile. Inoltre, dal 2018 collabora e scrive per D La Repubblica.