Miscigenação é a palavra que se costuma usar no Brasil para falar da mistura de etnias no país, mas Roger Cipó, fotógrafo e apresentador de Preto à Porter, adverte que a palavra e seu conceito “não parecem contar toda a verdade” sobre as “cores” do Brasil.
A historiadora Carol Sodré, também apresentadora do programa, explica que algumas características da colonização no país que interferiram drasticamente na nossa sociedade e contrapõem a ideia de que o Brasil vive uma democracia racial. Um deles é o constante abuso sexual de mulheres indígenas e negras. Além disso, conta, o Estado brasileiro criou políticas para embranquecer a população. Exemplo é o incentivo à vinda de imigrantes europeus.
Os Censos mais recentes consideram passaram a padronizar a definição de autodeclaração de raça/cor. As opções são: amarelo, branco, indígena, pardo e preto. Dados do último IBGE mostram que 54% da população brasileira é negra, considerando a soma dos autodeclarados pretos e pardos.
Na década de 1990, a artista plástica Adriana Varejão criou a obra “Tintas Polvo”, uma caixa com vários tons de pele, entre elas “escurinha” e “parda”. Inspirada na tinta que o polvo libera e no Censo de 1976, Varejão queria refletir as múltiplas leituras de tons de pele vigentes no país. O diretor Rodrigo Pitta foi até o ateliê dela ver de perto tudo isso. “A obra de arte tem que suscitar perguntas”, diz.
Questionada sobre o lugar dos artistas negros no mercado da arte, Varejão diz que tem notado mais espaço. Galerias e museus têm dado maior abertura a criadores pretos e pardos, além de incluir em seus acervos outros nomes.
Lucas Veloso (Colaboração para o UOL, de São Paulo)
07/09/2021